Como o Rolfing ajuda a liberar traumas físicos e emocionais

Na Terra, todo nosso corpo vive imerso nesta força. Somos em geral, inconscientes desse campo que nos sustenta, como peixes inconscientes das correntes em que vivem.

Desenvolver um relacionamento harmonioso com a força da gravidade é um dos objetivos do Método Rolf.
A estrutura e a maneira como usamos nossos corpos – somos bípedes – requerem um alinhamento vertical equilibrado em torno de um eixo central. Em harmonia com a gravidade, esse corpo se expressa na extensão vertical. Todos os movimentos se tornam extensão no espaço, ao invés da contração.

O corpo é plástico e tem uma grande capacidade de adaptação às circunstâncias da vida. Assim, diante de muitas exigências simultâneas, vamos nos modificando, compensando, nos adaptando da melhor maneira, nos moldando às necessidades do momento.

Como esse processo é ininterrupto e as adaptações são inconscientes e automáticas, vamos perdendo de vista o estado de equilíbrio ideal e, com o tempo, ficamos incapazes de encontrá-lo. Aí, começamos um processo de deteriorização em que a gravidade não mais nos suporta e começa a nos derrubar. Mas para isso, precisamos entender como esse meio plástico que é nosso corpo, funciona.

A Dra Ida Rolf, phD., em bioquímica e criadora da Integração Estrutural ou Rolfing, especializou-se no estudo do colágeno, um dos componentes químicos do tecido conjuntivo, que chamamos de fáscia. Esta constitui uma rede que sustenta os músculos e o esqueleto, dando-lhe forma.

A fáscia é influenciada e responde a aplicação de energia, pressão e calor. Mediante a aplicação dessa energia, a fáscia, que em seu estado normal tem uma consistência gelatinosa, torna-se mais solúvel e pode permitir que as estruturas por elas envolvidas idem de lugar e se adaptem, numa relação mais harmoniosa com as demais partes do corpo. Sabemos também que, quando submetidas a um esforço contínuo e excessivo, ela se adensa, engrossa e perde sua plasticidade.

Imagine que andando descalço, uma pessoa pise num caco de vidro e corte o pé. Removido o caco e tomas as providências necessárias, essa pessoa vai mancar nos próximos dias, evitando colocar o peso do corpo no pé, machucado ou, pelo menos, tentando evitar o local dolorido. Esse padrão alterado de andar vai provocar maior tensão na outra perna e em algumas áreas do pé machucado.

Se imaginarmos que o corte foi no arco do pé, a pessoa vai andar entortando esse pé, para que o peso recaia mais na parte lateral. Ao repetir esses movimentos alterados por alguns dias, cria-se uma demanda nos tecidos que estão sendo sobrecarregados.

Para atender a essa necessidade do corpo, a fáscia desenvolve fibras extras: fica mais grossa, mais dura, ajudando a manter o pé na posição que não dói, e a pessoa pode continuar suas atividades diárias. Alguns dias depois, o corte está cicatrizado e não dói mais.

O padrão alternativo, porém, permanece, ainda que a pessoa já não manque mais e não precisa mais evitar aquela área do pé. A fáscia já se alterou e não permite mais que o peso caia no local protegido.
À primeira vista, parece que a pessoa parou de mancar, mas de fato, o peso não voltou a se distribuir no pé, como antes.

Consideremos quantos pequenos acidentes como esse nos influencia.

Imaginemos agora uma pessoa que passe por uma fase de depressão. Sabemos que deprimida, ela tende a restringir a respiração. Os movimentos da caixa torácica tornam-se menores e mais limitados.

A fáscia e os músculos envolvidos na respiração passam a não ser usados em sua amplitude potencial. A fáscia começa a perder sua plasticidade e, no momento em que essa pessoa quiser voltar a respirar amplamente, vai encontrar uma restrição física que impede a expansão do tórax.

Como tudo isso passa num nível sutil e inconsciente, ela não se dá conta de todo esse processo e, simplesmente, nunca mais volta a respirar com toda sua vitalidade e a sua capacidade vital fica diminuída.

É fácil enter, assim, a afirmação de que o corpo tem uma memória e a que a nossa história está registrada no corpo.