Campo morfogenético e epigenética

Como recebemos traumas dos nossos antepassados e como podemos transmiti-los para nossos filhos.

O campo morfogenético estudado pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, defini-se por estruturas invisíveis que moldam toda a forma e comportamento do ser vivo. Sempre que um algum membro de uma espécie tem determinado comportamento que é repetido inúmeras vezes, esse campo modifica toda a espécie por completo. Esses campos obedecem a uma ordem e dão um padrão de comportamento, que é passado de geração para geração. São informações que carregam uma memória inconsciente.

A historia do centésimo macaco exemplifica esse campo, pois quando o centésimo macaco, sem ter contato com outros macacos que já tinham o hábito de lavar as batatas, começou também inexplicavelmente a lavar as cascas das batatas para comer.

Na natureza podemos ver os pássaros voando em sincronia ou uma vegetação que aprende a aprofundar as raízes para buscar o alimento para sobrevivência, sem uma explicação de como se iniciou esse processo de aprendizagem.

Isso nos faz compreender o que acontece no nosso clã. Todo nosso clã também é um sistema único e inseparável. Por exemplo, o avô por algum motivo passa a ser um homem muito severo com seus filhos e esposa, torna-se muito machista, além de viver numa comunidade que leva muito em consideração a voz ativa do homem. Na geração seguinte nascem vários homens e perpetua a violência masculina dentro de casa, com agressões física e morais com as mulheres. 

O neto cria esse “vinculo” com o avô que continua tendo comportamentos semelhantes. Quando essa corrente é “quebrada com muito amor”, inicia o processo de perdão e um novo movimento começa a acontecer. No entanto, se esse “neto” continua com o mesmo padrão de comportamento do avô, a própria natureza se encarrega de “frear” esse comportamento. Como?! Por exemplo, pode acontecer de vir uma bisneta com problemas na fecundação, ou seja, o campo busca soluções e uma correção desse sistema.

Em 2005 a BBC escreveu uma matéria sobre como herdamos os traumas dos nossos antepassados. Uma equipe de pesquisadores do Hospital Monte Sinai em Nova York comparou a composição genética de um grupo de 32 homens e mulheres judeus com a composição genética de seus filhos. O grupo de estudo tinha vivido em um campo de concentração e sofrido com o regime nazista. Essa informação foi comparada com a de outras famílias judias que não tinham vivido na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Os filhos das famílias que foram vítimas diretas são mais propensos a sofrer problemas ligados ao estresse e as mudanças genéticas nessas crianças só podem ser atribuídos ao fato de que seus pais foram expostos ao Holocausto, segundo Rachel Yeruda, professora de psiquiatria e neurociência e líder do projeto de pesquisa.

No seu livro “A Biologia da Crença”, Bruce Lipton, ressalta a influência do ambiente em que vivemos e que o gene é uma pequena parte responsável de determinados comportamentos e doenças. 

As pesquisas epigenéticas verificaram que influências ambientais como nutrição, estresse e emoções podem influenciar os genes ainda que não causem modificações em sua estrutura. Os epigeneticistas descobriram que essas modificações podem ser passadas para as gerações futuras. O Dr. Thomas Verny, pioneiro na área de psiquiatría pré-natal e perinatal diz que as descobertas reveladas por estudos e textos de especialistas durante as últimas décadas estabelece, sem a menor sombra de dúvida, que os pais exercem grande influência sobre as características físicas e mentais de seus filhos. Verny afirma também que essa influência se inicia não após o nascimento, mas antes. O sistema nervoso de fetos e crianças tem habilidades sensoriais e de aprendizados muito amplas e uma memória implícita.

Além disso, Peter Nathanielsz diz que a qualidade de vida no útero, nosso primeiro lar, programa nossa suscetibilidade a doenças coronárias, ataque cardíacos, diabetes, obesidade e diversos fatores de nossa vida após o nascimento. Recentemente, descobriu-se haver uma ligação estreita entre distúrbios crônicos comuns em adultos – como osteoporose, oscilações de humor e até mesmo psicose – e as influências sofridas em seu período pré e perinatal (Gluckman e Hanson, 2004).

As influências epigenéticas continuam após o nascimento da criança, pois os pais exercem muita influência durante o seu crescimento. Pesquisas recentes e fascinantes sobre o assunto revelam a importância da influência positiva dos pais no desenvolvimento dos filhos: “Para o cérebro em crescimento de uma criança, o mundo social oferece experiências importantes que configuram a expressão dos genes que determinam como os neurônios se conectam para criar as redes neurais quedão origem à atividade mental”, declara o doutor Daniel J. Siegel. Em outras palavras, as crianças necessitam de um ambiente positivo para ativar os genes que tornam o cérebro saudável. Os pais, segundo revelam essas pesquisas, continuam a agir como engenheiros genéticos mesmo após o nascimento de seus filhos.

*fonte: A Biologia da Crença, Bruce Lipton